Por que alguns passam e outros não? (por Flávio Marcelo Sérvio Borges, juiz federal e professor do Emagis)
A pergunta é conhecida: por que alguns passam e outros não?
As respostas que tenho ouvido, porém, estão equivocadas. E estão equivocadas porque não enfrentam as duas principais características que devem ser aplicadas em toda e qualquer preparação para concursos.
Não vou aqui entrar em detalhes mais específicos; deixo-os para os próximos textos, que servirão a complementar os argumentos que começo a levantar.
Inicio, na verdade, com outra pergunta, para entrar na primeira característica que os que passam em concursos detêm.
O que é melhor, estudar duas horas por dia durante todo o ano ou estudar 10 horas por dia durante 30 dias, e passar o resto do ano sem estudar?
É melhor estudar duas horas por dia durante todo o ano, porque isso revela consistência - o número citado é um simples exemplo; ele poderia ser de três ou quatro horas; o que importa, no argumento, é a continuidade do estudo; é a continuidade do médio/longo prazo.
Consistência. Os que vencem possuem consistência. Eles estabelecem um caminho. Eles começam uma atividade e a concluem. Não param no meio da estrada. Podem até diminuir o ritmo aqui e ali (algo normal na vida), mas logo voltam à rotina firme. Não perdem a concentração no objetivo final, que é a aprovação no concurso desejado. Não se prendem a discursos, muitas vezes vazios; preferem a ação. Preferem pôr em prática um plano concreto.
Todos os que se submetem a uma competição - e concurso é competição - precisam de consistência. Consistência é manter um ritmo de estudo; é seguir estudando mesmo quando a maioria pensa que não é necessário fazê-lo porque os editais ainda não foram publicados. Consistência é evoluir a cada dia, ainda que seja pouco - e a pequena evolução diária (ou semanal) vai se tornar uma grande evolução ao final de um ano.
Os que passam em concurso não estudam apenas um mês, dois meses ou quatro meses. A dedicação é maior. Há continuidade. Há persistência. Há a formação de uma rotina. A grande maioria dos aprovados não passou da primeira vez. Foram necessárias algumas tentativas. Às vezes, muitas tentativas. Mas isso não os fez desistir (conheço juízes federais que fizeram o concurso nove vezes, para passar apenas na décima tentativa). Eles simplesmente continuaram a estudar, até que a evolução obtida pela consistência os levasse à aprovação.
Há alguns anos li a biografia do tenista Rafael Nadal, um dos maiores esportistas do mundo. E o que ele explica? O que o levou a vencer centenas de torneios, competindo contra os melhores do mundo? Nadal usa uma palavra muito próxima à consistência. Ele fala em endurance. Endurance, traduzida literalmente, é resistência, mas ele a emprega, a rigor, no mesmo sentido de consistência. Ele segue treinando, sempre em busca da evolução.
Mas há uma segunda característica que completa a consistência: o aprendizado com os erros. Como você mede que está evoluindo? Como você sabe que hoje está melhor do que ontem? É simples. Respondendo às provas. As provas e as questões são o parâmetro da sua evolução.
Percebo, porém, que muitos respondem às provas simplesmente por responder. Não aprendem com os erros. Não refazem as questões.
Aqueles que passam não têm vergonha de errar; ao contrário, sabem que a hora de errar é no treino; sabem que refazer as questões que em outro momento erraram vai levá-los à evolução e ao domínio dos temas.
Reler é tão ou mais importante do que ler. Reler é ativar a memorização. É evitar que o erro passado seja um equívoco futuro.
Consistência e aprendizado com os erros: uma receita simples, uma receita que separa os que passam daqueles que não passam.
(Flávio Marcelo Sérvio Borges, juiz federal e professor do Emagis)